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Rosa Dall'Agnol

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

SER PROFESSOR É...



Certa vez, estava usando o computador e a caixinha do msn abriu. Era Helder Piancó , o amado Professor Téo. Ele falou que iria me enviar um texto e pediu que eu lesse. 
Confesso que de início fiquei preocupada, depois entrei em pânico, e depois... ah aí vocês é que vão conferir.
Vale a pena!
Um abraço Téo!



Fundo do poço

Devo tirar a minha vida? Devo acabar com o sofrimento que sinto?
Acredito que um tiro certeiro no meio da cabeça resolveria tudo! É... é isso! Um tiro... ou seria melhor uma taça de Conium maculatum ( cicuta), como fizera o pensador? Sei lá! Estou indeciso... . Não sei qual a melhor maneira de dar cabo à minha vida. Todavia, antes de tomar qualquer iniciativa, vou transcrever aqui as minhas angústias e quem sabe se tal empreitada não me mostra como devo melhor proceder.
Nasci no interior de Pernambuco, numa dessas cidadezinhas bem afastadas da capital, cujo cenário se desenha assim: muitos sem nada e pouquíssimos com muito...; um bebum chiante; outro, aboiador de toadas de rodeio; um médico para clinicar, fazer operações de todo tipo, desde que o necessário para tal, gire em torno somente de um tufo de algodão, alguma gaze, esparadrapo, pomadas, água oxigenada, iodo, mertiolate – no hospital – porque se o atendimento for em casa, usa-se mesmo é violeta... e para garantir um bom resultado, os atendidos no consultório saem com um vidrinho de   cartilagem do tubarão – vendido pelo sobrinho do doutor – ou uma receita para se comprar remédio contra os vermes; um doido de atirar pedra; outro, que de doido não tem nada e um terceiro, que carrega um santo a tira colo cuja única frase que diz é “Eu vejo um anjinho na nuvem”. Três escolas na sede: uma pública, duas privadas e uma “faz de conta”. Nesse caso são quatro, ou melhor, são três que valem quatro. Bom, isso não importa mesmo, pois aqui, numa votação da Câmara Municipal, três votos já ganharam de quatro! Incrível, não?! Não... tudo é verdadeiramente possível nesta terrinha!; Um prefeito vitalício, um diretor de escola vitalício, um de sindicato também, um padre casmurro, um rebanho de freiras, ou melhor, feias que não se sabem pra que servem ou o que fazem. Sim! Mais um doido, só que esse é magistrado e tem tiques, cacoetes e faz alongamento no meio do julgamento. Intelectuais? Artistas? Pensadores? Até que existem, mas abafados, castrados pelo ambiente onde a maior cultura é etílica e o baluarte em educação nunca foi reconhecido, vive a sofrer por conta dos males físicos e das frustrações educacionais.
Tenho ou não tenho motivos suficientes para cessar minha vida? Senão os tenho, aí vai, pois, mais alguns: sou filho do meio, ou seja, somos em três na casa de papai e é de conhecimento comum que o descendente dessa natureza sofre por demais, uma vez que sempre levei as surras. Ora porque queria bater na mais velha, apanhando assim dessa, ora porque batia no mais novo, apanhando, agora, de meu pai. Que coisa, hein?!  
Isso ainda não justifica minha posição, leitor? Não é o bastante?!
E os vizinhos? Esses talvez sejam motivos plenos e até amenizem o meu julgamento ante o Celeste. De um lado, vive um, que tem um criatório de porcos, uma criança de seus seis anos e um curtume, de modo que não recebo vizitas em casa e a última que veio, por conta da fedentina da pocilga e da inhaca do couro na salmoura, vomitou-me todo o chão.
E a criança? Onde entra a criança nessa história? Ah, a criança... . É tangida de casa muito cedo, cedinho a perambular pelas calçadas..., de quando em quando um grito, um choro e sem falar num velocípede que o “brinquedo do cão” teima em descer e subir os batentes dos passeios mais altos, perturbando, assim, o sono de qualquer cristão.
Há outros acontecimentos de grau de perturbação semelhante e que mereciam menção, contudo, julgo em bom número o rol feito nestas singelas linhas, acreditando que o suicídio é pouco para mim, não sendo digno de tê-lo, pois vejo que vim para sofrer, padecer e devo ter uma dívida gigantesca com Deus! Sendo assim, decidi por algo mais terrível... é isso! Algo que me marque para sempre, que me castigue plenamente, que me tire mais ainda o sono, que me faça envelhecer antes do tempo, que me obrigue a trazer trabalho pra casa e perca todos os dias santos, sábados, domingos e feriados. Está resolvido! Serei professor!!!
 (Helder Piancó, Téo)

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